sexta-feira, 25 de julho de 2008

SOLIDÃO

SOLIDÃO
Naquela velha tapera
Ao lado de um pé de ipê
Um velho mal se mexia
Procurando o porquê

Foi valente boiadeiro
Enfrentando chuva e frio
Roçara pastos com força
Mostrando todo seu brio

Nas vendas ou currutelas
A viola dedilhava
O som triste ou divertido
A todos emocionava

Com o arado de bois
Rasgava o ventre da terra
Depois plantava a semente
Fecundando o chão da serra

Quem precisasse de ajuda
Não precisava implorar
Ele estava sempre pronto
Ao semelhante ajudar

Plantou, criou, conduziu
Em serras, vales, baixadas
Seu suor molhou a terra
No laço, gancho ou enxada
Acampando num ranchinho
Viajando na estrada

O braço perdeu a força
A perna não quer andar
A lembrança tomou conta
Uma lágrima no olhar

Lá na porta da tapera
Só o ipê por companhia
A doença maltratava
O corpo velho gemia
A distância dos amigos
Era a dor que mais doía

quarta-feira, 23 de julho de 2008

VALOR

As palavras que mais falam
São as que não são faladas
Que expressam sentimentos
Que gritam mesmo caladas
Que chegam só de um olhar
Ou numa mão afagada

As palavras que elogiam
Valor não reconhecido
São como folhas ao vento
Que têm seu lugar perdido
Voando pro esquecimento
Habitando no esquecido

O valor só tem valor
Se sua falta for sentida
Se não, por mais que ele valha
Será riqueza perdida
Como pérola aos porcos
Como lembrança esquecida

Pepe