sexta-feira, 24 de outubro de 2008

DESCULPE, FOI ENGANO!

DESCULPE, FOI ENGANO
Amigo que já choraste
Nas dores do meu tormento
Escancara a gargalhada
Porque estoi mui contento
Pois acaba de nascer
Da minha filha, Barril
O mais recente rebento

Teve que ouvir buzinadas
Não foi pouco sofrimento
Mas, no fim, tudo deu certo
E ele saiu pro vento
Meteu a boca no mundo
E pôs fim ao contra-tempo
Bem vinda Ana Beatriz!
Ocupe o seu assento
Pra curtir felicidade
E repelir sofrimento
Que a vida te seja bela
A partir deste momento.

Na leitura do ultra-som
A medicina falhou
No lugar da beatriz
Foi Leandro quem chegou
Deve estar puto da vida
Com o corno que errou!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

SOLIDÃO

SOLIDÃO
Naquela velha tapera
Ao lado de um pé de ipê
Um velho mal se mexia
Procurando o porquê

Foi valente boiadeiro
Enfrentando chuva e frio
Roçara pastos com força
Mostrando todo seu brio

Nas vendas ou currutelas
A viola dedilhava
O som triste ou divertido
A todos emocionava

Com o arado de bois
Rasgava o ventre da terra
Depois plantava a semente
Fecundando o chão da serra

Quem precisasse de ajuda
Não precisava implorar
Ele estava sempre pronto
Ao semelhante ajudar

Plantou, criou, conduziu
Em serras, vales, baixadas
Seu suor molhou a terra
No laço, gancho ou enxada
Acampando num ranchinho
Viajando na estrada

O braço perdeu a força
A perna não quer andar
A lembrança tomou conta
Uma lágrima no olhar

Lá na porta da tapera
Só o ipê por companhia
A doença maltratava
O corpo velho gemia
A distância dos amigos
Era a dor que mais doía

quarta-feira, 23 de julho de 2008

VALOR

As palavras que mais falam
São as que não são faladas
Que expressam sentimentos
Que gritam mesmo caladas
Que chegam só de um olhar
Ou numa mão afagada

As palavras que elogiam
Valor não reconhecido
São como folhas ao vento
Que têm seu lugar perdido
Voando pro esquecimento
Habitando no esquecido

O valor só tem valor
Se sua falta for sentida
Se não, por mais que ele valha
Será riqueza perdida
Como pérola aos porcos
Como lembrança esquecida

Pepe

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

ansiedade

ANSIEDADE
Quis, queria, quisera
Continuo querendo
Vou querer sempre
Enquanto houver uma célula
Que possa manifestar esse querer
Provocando choro
Sorrisos também
A vida é querer
Querer é viver
Queria morrer
Porque o que eu quero
Não posso mais Ter
Mas querer não é poder
Quero o que não posso
Posso o que não quero
Por que?
Não posso Ter o que quero?
Me livrar do que não quero?
Me falta motivação
Sobra ansiedade
Falta prazer
Sobra sofrimento
Essa falta de querer
É sobra da falta de um querer maior
Que não me quer
Quando vou me livrar desse querer?
Quando terei um querer que me faça feliz?
Sonho querer com motivação
Sem ansiedade
Quando?

ganhar e perder

GANHAR E PERDER
Ganhei o que não sabia
Que poderia existir
Tão cheia de qualidades
Veio pra mim a sorrir

Amiga e solidária
Me amou como a amei
Corajosa e humilde
Era mais do que sonhei

Sensível, inteligente
Me apoiava com carinho
Enfrentava o difícil
Punha flores no caminho

Foram tempos de aventura
De amor apaixonado
Com amor e com ternura
Caminhamos lado a lado

De repente a luz apaga
Sinto forte a escuridão
Fui levado pelas trevas
Desapareceu o chão

Como mistério ela veio
Do mesmo jeito partiu
Me levou para as alturas
Ao ir, meu mundo ruiu

Ela se afastou de mim
Ficou no meu pensamento
Levou a felicidade
Me deixou o sofrimento

Senti falta da mulher
Da amiga, da companheira
Da coragem que ela tinha
De sua beleza brejeira

Pensei que adoecera
Agora sei que morreu
Ficou o corpo bonito
O importante faleceu

Viver sem o que ela foi
Foi um martírio profundo
Foi fantasia real
Esperança para o mundo

Sinto uma saudade enorme
De tudo que aconteceu
Perder tal grandiosidade
Destruiu o mundo meu

Só resta sobreviver
Viver do jeito que der
Esperar outro milagre
Ser o que a vida quiser

Foi como sonhar a vida
Linda, doce, admirável
E acordar dentro de um brejo
Em situação miserável.

engano

ENGANO
Acreditei dirigir
O meu viver pela vida
Que fazia meu de-vir
Que ritmava a batida

Infringi alguns sinais
Dirigi na contra-mão
Briguei contra preconceitos
Fui amante da razão

Retas, curvas, solavancos
Muitas serras no caminho
Chorei com olhos e mente
Vivi amor e carinho

Desconfio que não fui
Diretor de minha vida
Fui levado a viver
Autonomia iludida

Hoje sei que nada sei
Nem sei se sei o que sei
Vivi tudo o que senti
Mudei muito o que pensei

Razão controla o querer
Vontade satisfazer
Sem razão ela domina
Leva o prazer a sofrer


Vivo sozinho
numa casa sem guardados
Pensando, sentindo
E analisando dados
Vivendo a solidão
O bom do passado, longe
A dor da saudade, aqui
No passado a referência
Para reforçar a dor
Do que se foi, me deixou
No vazio do desamor
Vou da sala pra cozinha
Grito a revolta e a dor
Berros meus e só pra mim
E que ninguém pode ouvir
O grito rompe o silêncio
Querendo matar a dor
A loucura desvairada
Por Ter perdido o amor
Café em goles miúdos
O cigarro busca a chama
A fumaça se enrola
No mistério, sua trama
Impossível entender
O porque, o que causou
Tamanha reviravolta
Na vida que me levou
Ontem eram gargalhadas
Hoje o choro dominou
Gritos com força gritados
Tentando expulsar o que
Me deixa os olhos inchados
O coração apertado
Conceitos estropiados
A razão luta, resiste
Busca restabelecer
O domínio do entender
O final deste sofrer
Passos lentos pela casa
Paradas pára gritar
Braços que buscam o alto
Querendo a dor expulsar
Loucura? Quem sabe é
Quem pode saber se não
Os loucos não sabem ser
Talvez nunca saberão
Enquanto não esclarece
Grito minha solidão
Sigo gastando os passos
A mente em turbilhão
Tento racionalizar
Lutando contra a emoção
Grito para dominá-la
Ela me joga no chão.
Já que a vida não para
Já que é impreciso viver
Vou continuar gritando
Pra acordar o meu viver
“Pooooooorraaaa de Viiiiiiiida!”
“Por que cobra tanto pelo que deu?”
“Filha da puuuuuuuuuuuta!”